quarta-feira, 20 de julho de 2016

CAMINHADA PERIGOSA

20 07 2016


Curso superior, com um bom dinheiro no bolso e no ápice da pirâmide social em sua pequena cidade. A patroa, sempre na coluna do humilde jornal local, também com terceiro grau completo e com a arrogância de quem pensa em ficar em pé.
O fino casal de brasileiros que conheci durante a viagem, meus vizinhos de Estado, se deliciavam com o raro sol do outono, na ampla escadaria da catedral e se fartavam de bananas e tangerinas. O primeiro arremesso nada certeiro foi dele. Errou uma pequena lixeira que estava a uns dez passos e lá deixou a casca de uma banana, no passeio, sem se preocupar com o perigo que ela representava, nem mesmo com a poluição. Deveriam ter noção do convívio em comunidade, mas estavam mais preocupados em registrar sua presença “nas Europa” para mostrar aos amigos e inimigos da sua cidade natal. E registraram! Não só em fotos.
De forma mansa e alcançando-lhes uma sacola plástica que sempre tenho em minha mochila, lhes disse que o povo europeu não estava acostumado com aquela cena e que seria bom se recolhessem a casca de banana para ninguém nela resvalar e as cascas de tangerina que já estavam meio que espalhadas pelos degraus.
Sua reação não me causou espanto, não precisa dizer por quê. Argumentaram com sorriso de canto de boca, que naquele País rico deveria ao menos ter uns garis para recolher o lixo de quem lá deixava seu suado dinheirinho...
A casca de banana eu recolhi e a deixei dentro da sacolinha junto deles.
Lembrei hoje, domingo de sol pleno, do distinto casal, quando fui caminhar pela Estrada da Rainha. É que na descida rumo a Praia Brava quase fui alvo de uma garrafa de cerveja vazia jogada de um carro em movimento. Dez da manhã e já havia bêbado mal-educado enchendo a paciência do freguês por aquelas bandas.
Não me incomodei pelo fato de quase ser atingido e tomei uma atitude ainda no campo de visão do desleixado. O radar fixo da rodovia o fez diminuir a marcha e ele pode me ver juntando o seu lixo. Seu retrovisor externo denunciava sua curiosidade enquanto eu já alcançava a lixeira para depositar a garrafa. Em outro carro que passava, também percebi um sorriso maroto do motorista ao flagrar-me juntando lixo no passeio da bela rodovia.
Qual o tipo de sanção para um relaxado desse tipo? Na Europa é multa pecuniária, na certa. Aqui no Brasil, nada. A impunidade está nas mais corriqueiras atitudes e se estende aos corruptos engravatados. Questão de cultura, de educação. O engraçado é que ficam gozando da cara de quem quer mudança. O porcalhão na risadinha e o da gravata no desdém ao povo, ao Judiciário, a tudo. Não me aborreço. Faço a minha parte.
E para terminar o passeio, fui atropelado por uma bicicleta conduzida a mil por hora por uma senhora sessentona. Nada grave. Mas, ela invadiu a pista de uso comum dos pedestres e dos ciclistas repentinamente, sem qualquer sinal de alerta e sem usar o freio. O pneu bateu-me numa das pernas e está tudo bem. Só que, quase apanhei da mulher ao pedir que ela tivesse mais cuidado com quem caminha.
Como o povo brasileiro só aprende na base do castigo, necessário se faz criar leis com multas pesadas para quem joga lixo por aí e regulamentação de trânsito para bicicletas com obrigação do uso de alertas sonoros, aqueles presos ao guidão. No mais, propaganda frequente em rádio e televisão ensinando o povo normas de cidadania e boa convivência.
Alguns corruptos estão se vendo com Moro...
Como será que aquele casalzinho andaria de bicicletas em meio a pedestres...?

 

Renato Mauricio Basso

Juiz aposentado

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