domingo, 10 de julho de 2016

GRATIDÃO COMO PRESENTE

09 07 2016


Hoje o meu velho pai faria 107 anos de idade. Dispenso o complemento “se vivo fosse” por razões óbvias.
Mas ontem, antecipadamente, dei a ele o meu presente mais caro, a lembrança da sua presença na minha vida. A coisa foi mais ou menos assim, peguei uma tesoura de poda e fiz uma arrumação geral num pé de acerola no pátio de um amigo.
Ao comprimir os cabos da cortadeira manual lembrava de como meu pai e o pai dele me ensinaram na lida da poda de parreiras, figueiras e demais árvores frutíferas que possuíamos em nosso “latifúndio” urbano.
É uma questão de domesticação, ou educação, como queiram. Bati com a cara no muro muitas vezes e o velho sempre esteve ao meu lado para me dar o rumo certo.
A domesticação da planta requer conhecimento, técnicas de direcionamento, de adubação, de seleção de sementes. Os antigos aprenderam domesticar o trigo, o arroz, as árvores e os animais em seu favor, para que houvesse maior segurança, longevidade, tudo em equilíbrio com o todo, para que se tenha maior produtividade, progresso, fartura, só coisa boa.
Os nossos ancestrais aprenderam que educar o rebento para um caminho sem muita complicação, sem muito cascalho, nos trilhos da honestidade, em busca sempre do bom dever cumprido, é o rumo da felicidade.
Obrigado seu Otero e nono Ricardo. Valeram seus esforços! Tenho certeza que hoje estão satisfeitos aí no outro nível, ao ver sua família unida e batalhando ao lado dos bem intencionados. Mostro aos meus filhos e neta o mesmo caminho.
E a ramada que o pé de acerola construiu ao longo de alguns anos sem direcionamento, eu fui desbastando devagar e atento. O tronco está saudável, e forte galhada impulsiona a árvore para cima, em busca de luz. Vale a pena cuidar, dar atenção. Cortem-se os galhos mortos, os doentes e os mirrados, para que a planta possa usar toda sua seiva, seu vigor, na concepção de bons frutos e boas sementes. A poda é essencial para se ter uma boa árvore com boa produção, e é um trabalho dignificante, construtivo.
Rapaz, deixei a planta enxuta! Só galhos bons, com boa luminosidade e sem aquela trama toda de galhos podres, de peso morto, a prejudicar seu crescimento.
Quero que minha produção tenha vida plena e que dê bons frutos.
Quero atravessar a fronteira da vida sem pedras de rancores e omissões na minha mochila. Dinheiro e patrimônio não dá para levar junto, mas quem sabe um excelente filme na memória? Não custa tentar.
Feliz aniversário, meu velho! Obrigado pelos ensinamentos e pelas podadas que me deu!

 

Renato Mauricio Basso
Juiz aposentado

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