RIO DE LAMA
“Rio
de Janeiro você não me dá tempo de pensar, com tantas cores sob esse
sol. Mas pra que pensar se eu tenho o que quero, tenho a nega e o meu
bolero, a TV e o futebol”.
Minhas impressões de um Rio pré-Olimpíadas.
Três
freadas bruscas seguidas na aterrissagem. Nunca tinha passado por tal
situação. Impressionou, mas não botou medo. A pista do Santos Dumont
deve ser mais curta que a maioria.
No
saguão os berros do pessoal dos táxis em disputada busca por clientela,
sobressaíam da turba que transitava pelos corredores. Eu preferi
contratar o serviço em um balcão e procurei uma fila já na rua, onde me
foi indicado o carro que me levaria ao hotel.
Não
podia dar muita atenção ao motorista que falava mal do sistema UBER,
porque precisava me localizar. Não ocorreram desvios e em pouco tempo,
Ipanema, meu destino, já se avizinhava.
Na
entrada do hotel um caminhão desentupia o encanamento de esgoto e o
odor denunciava o desleixo do poder público e a pouca consideração para
com os moradores e turistas.
Instalei-me
e logo fui para o calçadão à beira-mar em meio a um tumulto de pessoas,
vozes, idiomas e sotaques. Vendedores ambulantes, todos sem qualquer
credencial da Prefeitura, abordavam os turistas oferecendo-lhes todo
tipo de regalos chinfrins. Tinha até estrangeiro vendendo seu peixe.
Uma
senhora tatuada que me estendia pulseiras, disse que “acá no está bien
porque ai poca plata”. Se não está bom para vendedor ambulante de
Ipanema, imagine-se o que passam os empresários que dão emprego,
produzem riquezas e pagam pesados impostos.
A
frota de automóveis é composta de carros comuns. Encontrei apenas uma
SUV da Porsche e um automóvel da BMW, o resto só nacionais e populares.
Deve ser a crise que abala a todos.
Os
restaurantes que vi, todos tinham mesas vagas. O tal “Garota de
Ipanema”, disputadíssimo, me recebeu meio que de nariz em pé. Não vou
entrar em detalhes, mas não indico o botequim para quem gosta de
educação e respeito.
Já
sentado à mesa, olhei para o outro lado da rua e vi que o colega da
Garota, “Vinicius de Moraes” estava com todas as mesas vagas.
Levantei-me sob o olhar inquisidor do pequeno garçom e me fui até lá,
onde fui muito bem recebido. Comida boa e preço bom.
Pagar para ser mal atendido deve ser masoquismo.
Em
três dias ouvi somente um relato de furto de celular e passear pela
calçada foi tranquilo. É evidente que há que ficar esperto nessas horas.
O
policiamento nas ruas chamava atenção. Exército, Polícia Militar,
Guardas Municipais e outros contratados faziam rondas a pé e
motorizados. A sensação era de segurança e não me senti vulnerável em
nenhum momento, apesar de ter sido alertado pelo pessoal da recepção do
hotel sobre assaltos a mão armada.
A
moça que me atendeu no café da manhã disse que nas favelas o turista
podia entrar sozinho sem medo, porque os chefes do tráfico não queriam a
polícia por lá e castigavam o malandro que roubasse alguém de fora da
comunidade. Fiquei na planície mesmo. Pobreza se vê em qualquer rincão
deste País e “Tropa de Elite” me deu um panorama do modus vivendi do
morro.
Corcovado
e Pão de Açúcar lotados de gente, a maioria brasileiros. Lá não vi
policiamento e imaginei uma gangue ou um islamita fanático aprontando
alguma. Grave falha do sistema de segurança pública.
Para
ir do Cristo à Urca passamos por uma favela e a guia da Van que peguei
impressionou a todos dizendo que se ouvíssemos um “ta-ta-ta” de algum
transeunte, deveríamos nos abaixar de imediato porque estaríamos
passando por um tiroteio. O romano Marco, à minha frente, arregalou os
olhos. Sua obesidade era alvo fácil de alguma bala, perdida ou não.
Achei desnecessário o alerta de voz firme e convincente. Nada aconteceu,
mas chilenos e europeus que nos acompanhavam ficaram muito
preocupados a ponto de uma família de santiaguenses abandonar o passeio
na metade do trajeto.
As
extensas filas para acesso aos mais famosos pontos turísticos ficavam a
céu aberto e sobre chão lamacento. Africanos ou haitianos, faceiros,
vendiam guarda-chuvas por vinte reais, o que protegeu a maioria da garoa
que passou a cair.
O
turismo no Rio de Janeiro, então, deixa a desejar em muitos aspectos,
mas o que mais marcou foi a sujeira. Ruas emporcalhadas de todo tipo de
dejeto, de canino a humano. Perguntei ao vendedor de coco em frente da
catedral e da Petrobrás, a razão do mau cheiro e ele, indignado, disse
que o pessoal evacua sob uns arbustos de um canteiro, apesar de existir
banheiro a poucos metros de distância. Uma barbaridade. Os homens das
cavernas agora são os homens das moitas urbanas, e os ditos civilizados
jogam suas porcarias na famosa lagoa. A fedentina está por toda a parte.
Da Baía da Guanabara não precisa falar porque todos sabemos que lá tem
todo tipo de lixo, de sofá a garrafa pet, de estrume a óleo queimado.
Uma podridão.
Para
o estrangeiro que aqui aporta deve ser tudo muito exótico, como o
zoológico que o Lulinha deixou de limpar faz anos. Devem querer ver como
vive um povo comandado por corruptos e ladrões em meio a sujeira
ambiental e política, ou estão interessados somente na beleza que a
fotografia revela?
Como sediar Olimpíadas em pocilga? Que imagem levarão daqui os nossos visitantes?
A minha impressão não pode ser das melhores e o sentimento é de vergonha.
O Rio de Janeiro continua lindo só em cartão postal, mas “pra que mudar se tenho a nega, o bolero, a TV e o futebol?”
Renato Mauricio Basso
[10:56, 4/8/2016]
“Que mal lhe pergunte, é despeito ou você tem alguma coisa contra?”
Pelo
modo meio incisivo de falar, pensei que fosse provocação, mas, logo em
seguida, vi que era o jeitão do caboclo que o fazia agir daquela
maneira. Maneira rude, mas sincera. Se podia dar crédito.
Sem
desrespeitar expliquei o meu posicionamento e gostei quando ele
entendeu a lógica, visualizou o conjunto e tirou suas próprias
conclusões.
Sempre
há de se ter resposta para eventuais argumentações e uma boa dose de
didática, mas se o cidadão está antenado, ligado ao caso e ao quadro que
se lhe expõe, o sucesso é garantido no se fazer entender e no
entendimento.
Concentro-me
na solução e não no problema, até por que, o problema era dele, não
meu. A solução era fazê-lo ver que o seu caminho estava completamente
errado, e ele, sem qualquer mapa ou GPS, dava com o burro no banhado.
Saiu do lodo ligeirinho, só com um aviso. Percebeu o quadro todo e a
fria em que estava se metendo. Caboclo esperto. Rude, mas esperto.
Na
minha didática procuro desenhar o caso, mesmo para os mais letrados,
não por subestima-los, mas para me sentir mais seguro no relato.
E
tem aquele imbecil que atrapalha o resgate. Com sua teimosia e parca
visão, tropeça até na mangueira do soro ao se deparar com ideia alheia.
Não quer saber do aviso de perigo e atravessa o sinal vermelho a mil por
hora. Suicida, talvez. Ou do estado satânico.
Nessa
hora não tem didática que ajeite, nem mesmo pátria educadora. Quando
não se quer entender, ou não se pode, a coisa é séria. Há que avaliar se
vale a pena orientar o vivente, ou não.
Este
foi rude ao perguntar se eu tinha alguma prova contra a Dilma. Rude e
imbecil. E a minha resposta foi em uma única palavra “nada”. Não dá para
gastar tempo com quem está no fundo da areia movediça. Tiro da lama
antes os que podem ajudar no resgate dos mais próximos e menos atolados.
Aos que estão só com a mão de fora, acenando, digo adeus.
O
imbecil em questão é pré-candidato a vereador, PCdoB ou coisa que o
valha, e defendia o PT com raiva e rancor, enfatizando o “golpe” em
curso e as conquistas sociais dos últimos treze anos.
Já
sabia, todo comunista é fanático, assim como aqueles fundamentalistas
que se explodem em público, ignorantes que militam utopias. Quando
percebi a qualidade do aprendiz de traquinagem, saí e deixei-o falando
sozinho. O cara era rude e insipiente. Terá um ou dois votos, o seu
próprio, se encontrar a tecla certa.
Nos
meus diálogos quero saber como pensam os pré-candidatos que já estão em
campanha e conversarei com alguns. Na semana que vem desenharei um
quadro para uma senhora com boas intenções e verei qual é a lente dos
seus óculos. Se enxergar bem tem o meu voto.
Renato Mauricio Basso
Juiz aposentado