quinta-feira, 4 de agosto de 2016

RIO DE LAMA


“Rio de Janeiro você não me dá tempo de pensar, com tantas cores sob esse sol. Mas pra que pensar se eu tenho o que quero, tenho a nega e o meu bolero, a TV e o futebol”.
Minhas impressões de um Rio pré-Olimpíadas.
Três freadas bruscas seguidas na aterrissagem. Nunca tinha passado por tal situação. Impressionou, mas não botou medo. A pista do Santos Dumont deve ser mais curta que a maioria.
No saguão os berros do pessoal dos táxis em disputada busca por clientela, sobressaíam da turba que transitava pelos corredores. Eu preferi contratar o serviço em um balcão e procurei uma fila já na rua, onde me foi indicado o carro que me levaria ao hotel.
Não podia dar muita atenção ao motorista que falava mal do sistema UBER, porque precisava me localizar. Não ocorreram desvios e em pouco tempo, Ipanema, meu destino, já se avizinhava.
Na entrada do hotel um caminhão desentupia o encanamento de esgoto e o odor denunciava o desleixo do poder público e a pouca consideração para com os moradores e turistas.
Instalei-me e logo fui para o calçadão à beira-mar em meio a um tumulto de pessoas, vozes, idiomas e sotaques. Vendedores ambulantes, todos sem qualquer credencial da Prefeitura, abordavam os turistas oferecendo-lhes todo tipo de regalos chinfrins. Tinha até estrangeiro vendendo seu peixe.
Uma senhora tatuada que me estendia pulseiras, disse que “acá no está bien porque ai poca plata”. Se não está bom para vendedor ambulante de Ipanema, imagine-se o que passam os empresários que dão emprego, produzem riquezas e pagam pesados impostos.
A frota de automóveis é composta de carros comuns. Encontrei apenas uma SUV da Porsche e um automóvel da BMW, o resto só nacionais e populares. Deve ser a crise que abala a todos.
Os restaurantes que vi, todos tinham mesas vagas. O tal “Garota de Ipanema”, disputadíssimo, me recebeu meio que de nariz em pé. Não vou entrar em detalhes, mas não indico o botequim para quem gosta de educação e respeito.
Já sentado à mesa, olhei para o outro lado da rua e vi que o colega da Garota, “Vinicius de Moraes” estava com todas as mesas vagas. Levantei-me sob o olhar inquisidor do pequeno garçom e me fui até lá, onde fui muito bem recebido. Comida boa e preço bom.
Pagar para ser mal atendido deve ser masoquismo.
Em três dias ouvi somente um relato de furto de celular e passear pela calçada foi tranquilo. É evidente que há que ficar esperto nessas horas.
O policiamento nas ruas chamava atenção. Exército, Polícia Militar, Guardas Municipais e outros contratados faziam rondas a pé e motorizados. A sensação era de segurança e não me senti vulnerável em nenhum momento, apesar de ter sido alertado pelo pessoal da recepção do hotel sobre assaltos a mão armada.
A moça que me atendeu no café da manhã disse que nas favelas o turista podia entrar sozinho sem medo, porque os chefes do tráfico não queriam a polícia por lá e castigavam o malandro que roubasse alguém de fora da comunidade. Fiquei na planície mesmo. Pobreza se vê em qualquer rincão deste País e “Tropa de Elite” me deu um panorama do modus vivendi do morro.
Corcovado e Pão de Açúcar lotados de gente, a maioria brasileiros. Lá não vi policiamento e imaginei uma gangue ou um islamita fanático aprontando alguma. Grave falha do sistema de segurança pública.
Para ir do Cristo à Urca passamos por uma favela e a guia da Van que peguei impressionou a todos dizendo que se ouvíssemos um “ta-ta-ta” de algum transeunte, deveríamos nos abaixar de imediato porque estaríamos passando por um tiroteio. O romano Marco, à minha frente, arregalou os olhos. Sua obesidade era alvo fácil de alguma bala, perdida ou não. Achei desnecessário o alerta de voz firme e convincente. Nada aconteceu, mas chilenos e europeus que nos acompanhavam ficaram muito preocupados a ponto de uma família de santiaguenses abandonar o passeio na metade do trajeto.
As extensas filas para acesso aos mais famosos pontos turísticos ficavam a céu aberto e sobre chão lamacento. Africanos ou haitianos, faceiros, vendiam guarda-chuvas por vinte reais, o que protegeu a maioria da garoa que passou a cair.
O turismo no Rio de Janeiro, então, deixa a desejar em muitos aspectos, mas o que mais marcou foi a sujeira. Ruas emporcalhadas de todo tipo de dejeto, de canino a humano. Perguntei ao vendedor de coco em frente da catedral e da Petrobrás, a razão do mau cheiro e ele, indignado, disse que o pessoal evacua sob uns arbustos de um canteiro, apesar de existir banheiro a poucos metros de distância. Uma barbaridade. Os homens das cavernas agora são os homens das moitas urbanas, e os ditos civilizados jogam suas porcarias na famosa lagoa. A fedentina está por toda a parte. Da Baía da Guanabara não precisa falar porque todos sabemos que lá tem todo tipo de lixo, de sofá a garrafa pet, de estrume a óleo queimado. Uma podridão.
Para o estrangeiro que aqui aporta deve ser tudo muito exótico, como o zoológico que o Lulinha deixou de limpar faz anos. Devem querer ver como vive um povo comandado por corruptos e ladrões em meio a sujeira ambiental e política, ou estão interessados somente na beleza que a fotografia revela?
Como sediar Olimpíadas em pocilga? Que imagem levarão daqui os nossos visitantes?
A minha impressão não pode ser das melhores e o sentimento é de vergonha.
O Rio de Janeiro continua lindo só em cartão postal, mas “pra que mudar se tenho a nega, o bolero, a TV e o futebol?”

Renato Mauricio Basso
[10:56, 4/8/2016]

“Que mal lhe pergunte, é despeito ou você tem alguma coisa contra?”
Pelo modo meio incisivo de falar, pensei que fosse provocação, mas, logo em seguida, vi que era o jeitão do caboclo que o fazia agir daquela maneira. Maneira rude, mas sincera. Se podia dar crédito.
Sem desrespeitar expliquei o meu posicionamento e gostei quando ele entendeu a lógica, visualizou o conjunto e tirou suas próprias conclusões.
Sempre há de se ter resposta para eventuais argumentações e uma boa dose de didática, mas se o cidadão está antenado, ligado ao caso e ao quadro que se lhe expõe, o sucesso é garantido no se fazer entender e no entendimento.
Concentro-me na solução e não no problema, até por que, o problema era dele, não meu. A solução era fazê-lo ver que o seu caminho estava completamente errado, e ele, sem qualquer mapa ou GPS, dava com o burro no banhado. Saiu do lodo ligeirinho, só com um aviso. Percebeu o quadro todo e a fria em que estava se metendo. Caboclo esperto. Rude, mas esperto.
Na minha didática procuro desenhar o caso, mesmo para os mais letrados, não por subestima-los, mas para me sentir mais seguro no relato.
E tem aquele imbecil que atrapalha o resgate. Com sua teimosia e parca visão, tropeça até na mangueira do soro ao se deparar com ideia alheia. Não quer saber do aviso de perigo e atravessa o sinal vermelho a mil por hora. Suicida, talvez. Ou do estado satânico.
Nessa hora não tem didática que ajeite, nem mesmo pátria educadora. Quando não se quer entender, ou não se pode, a coisa é séria. Há que avaliar se vale a pena orientar o vivente, ou não.
Este foi rude ao perguntar se eu tinha alguma prova contra a Dilma. Rude e imbecil. E a minha resposta foi em uma única palavra “nada”. Não dá para gastar tempo com quem está no fundo da areia movediça. Tiro da lama antes os que podem ajudar no resgate dos mais próximos e menos atolados. Aos que estão só com a mão de fora, acenando, digo adeus.
O imbecil em questão é pré-candidato a vereador, PCdoB ou coisa que o valha, e defendia o PT com raiva e rancor, enfatizando o “golpe” em curso e as conquistas sociais dos últimos treze anos.
Já sabia, todo comunista é fanático, assim como aqueles fundamentalistas que se explodem em público, ignorantes que militam utopias. Quando percebi a qualidade do aprendiz de traquinagem, saí e deixei-o falando sozinho. O cara era rude e insipiente. Terá um ou dois votos, o seu próprio, se encontrar a tecla certa.
Nos meus diálogos quero saber como pensam os pré-candidatos que já estão em campanha e conversarei com alguns. Na semana que vem desenharei um quadro para uma senhora com boas intenções e verei qual é a lente dos seus óculos. Se enxergar bem tem o meu voto.


Renato Mauricio Basso 
Juiz aposentado

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